segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O velho namoradeiro





Uma vez abordei esta história-fantasia pela versão de cada um dos seus personagens.
Agora e acrescentando-lhe alguma dissonância dramática ocorreu-me revisitá-la mais adiante e pela perspectiva de um velho namoradeiro...

O velho namoradeiro

O velho arranjou-se o mais airosamente que lhe era ainda acessível e saiu do pequeno apartamento em que vivia há mais de dez anos, desde que se separara da sua segunda mulher, reflectindo na razão de ali ter ido dar e na vida que levava desde então.
Ao fim de sete anos de vida em comum nesse relacionamento a que gostava de chamar o seu segundo casamento, embora nunca o tivesse sido de facto, percebera inesperadamente que a relação deles não passava de um equívoco.

Ela tinha sido a sua paixão tardia, que tantas vezes ouvira referida como uma saída para a frente que por volta dos quarenta os homens tentam, na ânsia quase desesperada de não se confrontarem com a aceitação da vizinhança de uma nova idade que já poucas emoções fortes terá para lhes oferecer, na perspectiva em que a viveram até aí, sempre atentos e receptivos às aventuras passionais e escapadelas sexuais.
Pelo que sempre constatara considera-se socialmente comum por volta dessa idade a maioria dos homens confundirem uma súbita e talvez inesperada atracção emocional com a última oportunidade de darem uma reviravolta numa vida que se vai diluindo em tédio.
E ele não escapara à regra.
O que mais o admirara fora ela ter-se revelado num conhecimento já com alguns anos, porque quem lhe despertara essa fantasia fora uma mulher com quem convivia até com bastante regularidade no trabalho.
Um dia descobriram numa conversa em que abordavam reminiscências da juventude que tinham sido colegas na escola, e a partir daí esse passado comum gerou uma cumplicidade e atenção que nunca anteriormente tinham detectado no outro.
E sem grande consciência foram-se procurando de forma crescente, acabando por se tornarem um par dentro do pequeno grupo que habitualmente almoçava nos dias de semana.
E aos poucos essa procura alastrou ao final de tarde pós laboral, criando programas inofensivos para darem juntos um salto a qualquer lado antes de seguirem para casa.
Como seria de prever à despedida de um desses encontros mais tardios em que o frio os empurrou para o conforto do carro dele deram por si irremediavelmente a confessarem a importância daqueles escapes a dois e a avançarem para uma intimidade física que reconheciam não ser capazes de evitar. E que lhes abriu uma janela para prazeres quase desconhecidos.

A partir daí os acontecimentos na vida de casados de ambos foram vertiginosos.
Ele, que até se considerava uma excepção relativamente aos homens da sua geração, porque evitara sempre ter aventuras ou romances discretos, confessou à mulher que se tinha apaixonado e saiu rapidamente de casa.
Era a segunda vez que tal lhes sucedia e tinham também anteriormente decidido que a melhor forma de deixar poisar a poeira era ele sair de casa até ter as ideias claras sobre o que queria.
O velho reflectiu que intimamente ela pensara -e porventura até a ele tal ocorrera também - que tal como da primeira vez aquela paixoneta se iria provavelmente esvair rapidamente e que após isso - e como então sucedera - poderiam até beneficiar da lenta aproximação que se seguiria, revendo entretanto atitudes e removendo alguns dos fastidiosos procedimentos desatentos e mecanizados que nos casamentos têm tendência para se instalar e adormecer a parte emocional.
Por outro lado ela, a sua nova paixão, também deu um murro na mesa em casa, mas foi surpreendida pela atitude inesperada do marido, que o aproveitou para de imediato dar por findo o casamento.
E mesmo sem ser essa a intenção e aspiração iniciais daquelas atitudes de honestidade para com os parceiros de vida, ambos se depararam com uma até excessiva disponibilidade para a sua relação emergente, acabando assim por se lhe dedicarem com uma exclusividade que rapidamente os juntou.

Durante sete anos viveram de forma muito efervescente uma relação onde a paixão física era determinante mas onde tudo o mais parecia também próximo da perfeição.
Ele admirava-se pela constante identidade de gostos e vontades dela relativamente aos seus e com isso foi esbatendo as dúvidas que nutrira inicialmente, pois percebera e ela confirmara até que ao longo da sua vida anterior tivera diversos amantes, que enquadrara como uma necessidade de colmatar o frio e ausência de paixão de um casamento que nunca lhe trouxera emoções físicas e emocionais, até porque rapidamente se apercebera ter nascido apenas da conjugação e conveniência de interesses de ambos com os factores de idade e sócio-profissionais que normalmente determinam e calendarizam muitos casamentos.
E a vida comum de ambos continuou, embora subsistisse o impasse da formalização, pois as dúvidas e convicções dele mantinham-no bastante hesitante em avançar para o casamento – que não considerava minimamente importante concretizar - até um dia ela regressar de uma curta viagem de trabalho no estrangeiro, apercebendo-se ele que algo invulgar se teria passado, pois embora o negasse e tentasse não o demonstrar, ela chegara diferente.
A sua atenção por ele era maior mas incapaz de parecer natural revelava uma tensão insólita que resultava sobretudo do esforço a que se impunha.
Como ele era sensitivo e também intimista defendeu então que os problemas deviam ser encarados de imediato com franqueza e honestidade e procurou estimulá-la à exposição e discussão das razões daquela indesmentível e profunda alteração no seu comportamento, o que ela foi fazendo, embora contrariada e relutantemente.
E soubera então que nessa viagem ela tivera duas aventuras praticamente sem transição - nem ela poderia ter existido uma vez que estivera menos de um mês ausente - numa alteração de atitude que ela própria não conseguia explicar com clareza ou coerência.
Os seus argumentos pouco convictos alegavam apenas que tivera uma recaída dos seus anteriores comportamentos, pois não só estivera em lugares mundanos e exóticos como tivera também a companhia de algumas personalidades libertinas que identificara logo com esse seu passado e propícias a ali o reeditar.

Ele ficou estupefacto e incapaz de compreender aquela mulher que substituíra a que ele se convencera que amava e que o amava também, pois embora fosse até o que mais assiduamente viajava, tendo nessas ausências óbvias oportunidades e até assédios, nunca se dispusera a ponderar sequer corresponder-lhes, pois sabia que bastaria pensar fazê-lo para perder irremediavelmente o encanto e a atracção permanente por aquela relação em que investira o seu futuro.
A vida ensinara-lhe que o dispersar de atenção de uma relação viva e associar-lhe esse tipo de culpas a afectaria e destruiria definitivamente, para mais aquela, nascida do desafio com que se dispusera romper com tudo o que lhe estava previsto, estabelecido e destinado para o resto da vida.
E por isso fora incapaz de resistir a tamanha idiotice, de assimilar aquele aproveitamento absurdo de uma ocasião apenas porque ela surgira acobertada pela distância e desconhecimento, afastando-se então e definitivamente dela.
Porque fora suficientemente realista para ter antecipado que momentos assim surgiriam inevitavelmente na vida de qualquer deles e abordara até o tema diversas vezes com ela anteriormente.
E sempre argumentara que lhes caberia então decidir se os iriam aproveitar para rever e alterar os comportamentos que originariam essas cíclicas e inevitáveis crises de interesse ou se fariam como ela fizera, aproveitando-os, escondendo-os e preparando-se para viciar irremediavelmente a sua relação com áreas e culpas omissas que a degradariam, em vez de inversamente as reconhecer e nelas investir para a construção de uma uma relação plenamente cúmplice, franca e sem tabus.

Apesar de desde essa altura ela não abrandar nas tentativas de aproximação ele nunca mais considerou sequer essa eventualidade pois mantinha a convicção que a escolha fora feita quando ela, sentindo-se atraída pelo retorno a uma vida que conhecia, decidira por ele e não por se abrir com ele, explicando-lhe o que estava a passar-se com ela.
E o perdão, que até lhe teria sido fácil se ao invés de bem consciente dos meandros das seduções fáceis ela nunca as tivesse anteriormente vivido, ficava assim além da sua própria vontade.
E partira então desmoralizado, porque investira tudo nessa oportunidade que atribuíra a si mesmo de recomeçar, trocando uma relação estável, cordial e até muito confortável por um ímpeto de paixão pura que tentara materializar a partir daí numa relação ambiciosa e aberta, capaz de pela frontalidade e honestidade percorrer todos os labirintos da vida - os emocionais e os demais -, mesmo que eles fossem muitas vezes a forma mais incómoda e exigente de a enfrentar.
Inicialmente passara por uma fase de total desmotivação e isolamento, sentindo que falhara no aspecto que tornara prioritário na sua vida, o da realização íntima e passional.
Disso se ressentira então a sua vida social e profissional durante um período longo, reagindo lenta e progressivamente até de novo se sentir capaz de as prosseguir.
E foi nessa recuperação de ânimo mas sem desistir da sua fé na natureza humana e na honestidade que a sua disponibilidade romântica se tornou receptiva a um viver de episódios casuais, sem neles acalentar expectativas e ambições continuadas.
E agora, pensou o velho, acabei por me tornar neste velho ocasionalmente solitário, serei provavelmente até um fracassado na perspectiva de muitos, mas se consegui viver a minha vida até aqui sem ceder neste aspecto não será agora que vou desistir.
Que ela valha ao menos por isso, por ter tentado, rematou ele.
E assim decidido e serenado lá seguiu rua abaixo, lampeiro e gaiteiro, a caminho do jardim e de mais um dos seus namoricos.

Filipe N

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010



Malcriação justa (digo eu)...

Lavam-nos diariamente o cérebro, que tem de ser, que a culpa não é de ninguém - a não ser nossa, claro – que é preciso aceitar, retroceder, regredir, minguar, reaprender a linguagem da submissão e da acomodação, que vem aí uma nova era de escravidão, de miséria, o regresso aos “muito obrigado, meu rico senhor, eu entendo que não tenha para me dar, sim eu percebo que mesmo o meu rico senhor não tem outra alternativa senão sobrecarregar-me mais um bocadinho, mas mesmo assim agradeço-lhe, meu rico senhor”...
Não dizem tudo isto mas a gente percebe.
Digo eu que nasci torto.
Mas hei-de endireitar-me... ou talvez já não.

Porque me lembro de ser jovem, de reagir, de reclamar, de pensar por mim, de pensar nos outros... Ainda há quem pense para além do seu próprio umbigo?.... duvido.
Nesta era do salve-se quem puder, de objectivos materialistas e individualistas, de um imposto e proclamado valor supremo universal chamado competitividade, que não passa afinal da submissão do colectivo ao individual, mas com o senão de ser um individual alheio que por isso parece anónimo e comum... Mas é afinal só dos tais meus (teus, nossos...) ricos senhores, que determinam quais são os objectivos e regras dessa competitividade...
Que não tem regras para e em si mesma, só para os que nela são peões, a mão-de-obra..., a gente.

Nesta sua era a juventude foi manietada por conceitos de sobrevivência que se sobrepõem à subserviência, e foi sobretudo alienada e orientada para conceitos de vida individualistas, de sobrevivência a todo o custo e por isso não chega a perceber que há formas de contestar o estado das coisas, de rugir, de protestar, de se unir e até de fazer abanar os que determinam o ritmo e orientação que as coisas levam.
E, pior, não percebem que nessa actividade e associação de esforços por causas válidas e em prol de uma vida mais justa para a generalidade poderiam encontrar o que procuram lá nos seus refúgios de solidão e alienação, nos quartinhos onde os sonhos lhe chegam difusos, confusos e desordenados, por lhes faltar até uma direcção...
Porque há emoções, relacionamentos humanos e passionais reais na associação e dedicação a causas que não se podem comparar aos obtidos de um monitor nem do laisser faire de um charro...
E o mais perverso é que nunca uma geração teve formas tão acessíveis e fáceis para comunicar e reagir!
Porque existe a net, esse instrumento de massas que se poderia tornar vocacionado, não à laracha, à troca de vaidades intelectuais e criativas ou ao convívio e mesmo engate sem obrigação de vestir o casaquinho nem sair do quentinho, mas ao debate, à associação de ideias e interesses e à conjugação de estratégias, à consertação de reacções articuladas, já não restringidas à infra escala dos grupelhos esquerditas, dos comícios e acções de militantes decididas numa sala ou passadas de boca em boca mas ampliada à escala e dimensão que se quiser imaginar.
Porque a net pode ser isso mas é a última coisa que parece ocorrer-lhes.
Claro que é aberta ao controlo do poder, mas mesmo assim teria certamente um efeito moderador sobre ele, porque os poderes percebem e temem o poder.
E reagir, na maioria das vezes ingloriamente foi, é e será sempre o único poder da gente, não vale a pena iludir-nos nem acreditar outra vez no Pai Natal.
Porque todos sabemos que quem põe as prendinhas no sapatinho é o salário ganho pelo suor. O resto é, será e sempre foi ficção, gostosa mas mentirosa.
Não, em vez de criarem consciência desse incomensurável poder que lhe passa pelas mãos dispersam-se em passividades fúteis e inactividades pré-formatadas que existem por lá, como as quintas e toda a bonecada e afins ao dispor dos utilizadores, dispersando as energias na tentativa de escavar um qualquer modo de vida ou alienando-se em hobbys, sexo desorientado ou coisas bem piores, como a droga, que deixou de ser notícia sem deixar de proliferar em formas cada vez mais socializadas e massivas.
Porque para as novas gerações entaladas entre o desespero, o desemprego e a ausência total de nocções de solidariedade a net é só isso, o Face, os jogos, o trecolareco nos messengers, skypes e afins, sobretudo porque se lhes tirou à nascença conceitos tornados caducos e obsoletos, como solidariedade, força da união, (e se algum cota tentou preservá-los também não resulta, porque há a pressão do meio), etc., banidos por tudo isso se lhes afigurar meras e pirosas foleirices, tão fora de tudo o que os atrai, principalmente das noções de sobrevivência e mateirice que a competitividade lhes inculca e exige.

Estado de competitividade permanente que se viu agora não passar de um conjunto de acasos fortuitos e não parametrizados ou controlados por nada nem ninguém, que se foi aguentando nas canetas fruto só da incerta, instável, imponderada, irresponsável, inconsciente e casual tendência natural das coisas para criarem equilíbrios por si mesmas.
Por mero instinto de sobrevivência, digo eu, mas que um dia pode falhar. E agora falhou...
Porque o desenvolvimento em curso nunca teve nem seguiu planos ou estratégias ponderadas, nem tinha qualquer controlo sobre si mesmo nem sobre os efeitos –previstos e imprevistos - que podia e pode produzir, uma balda sem rei, roque ou orientação consertada e controlada, nunca passou de deixar o mundo e a gente dele ao livre arbítrio do mais selvagem liberalismo, que finalmente deu rédea solta aos infinitos e cruzados jogos de interesses e influências dos diversos poderes.
Que por acaso lá se ia conseguindo equilibrar e evitar o descalabro emergente por obra e graça da tal tendência defensiva e natural dos acasos...para evitarem catástrofes.
Mas tanto fizeram que nem essa conseguiu resistir e agora cá vamos por aí abaixo, e a descer todos os santos ajudam, neste caso até é o inverso mas isso não interessa nada, e por isso os meus ricos senhores vão diariamente às televisões, aos debates e a todo o lado dizer-nos que é preciso paciência e não fazer ondas, que estão a fazer tudo para evitar o descalabro, mas que para isso temos que amochar, sempre mais e sempre mais.
Como se a culpa fosse nossa.
Que não é nem podia ser, que me lembre nunca faltámos ao que nos foi exigido, nunca gazetámos às eleições (todos de uma vez, porque cada vez vamos menos, lá isso é verdade...), ao pagamento dos impostos nem ao trabalho.
E inventaram também o consumo que nós confundimos com qualidade de vida...
Mas ele e ela não passam da forma possível e essencial à concretização do tal liberalismo competitivo, que produz muito e não podia por isso restringir-se só a dar mordomias aos meus ricos senhores. É por isso que agora temos tantas coisas, pois é...
Que depois de pagas - e a maioria obriga-nos a prestações para toda a vida útil- sobra pouco, pois é...
E agora vão-nos à reforma, para os que lá conseguirem chegar, que se e quando lá chegarem será já pouco mais que uma sopa dos pobres...
É... ou vai ser... ou vai é voltar a ser... pois vai!
Outra coisa incrível é querem tornar o despedimento ainda mais liberal. Falam da legislação laboral como se ela fosse ainda um bastião de direitos dos que não querem fazer nenhum! Mas há muito que eles despediram esses porque essa mesma legislação o permite já há muito.
Há muito que só usam vínculos precários de emprego, avenças, contratos a prazo, empresários em nome individual do recibo avulso, etc.
Há que tempos que não há admissões para o quadro de efectivos (bem sei que há uns que lá vão dar, mas... família é família! E se não for o tio é de certeza por permuta...) e até as promoções desses e dos novos são sempre feitas em comissão de serviço, o que significa que caso o comissário deixe de ser útil ou necessário o podem fazer regressar ao posto original, no caso dos efectivos, ou ao desemprego, para a generalidade dos casos.
E mesmo a esses, aos efectivos, podem transitá-los para empresas de fachada, ACE’s e similares, ou seja empresas sem capital e património próprios, algumas mesmo sem uma sede, e que gerem de acordo com contratos de prestação de serviços a terceiros.
Contratos que terminando ou sendo perdidos deixam essas mesmas pessoas sem terem onde ir reclamar os seus direitos. Apesar de ninguém lhos negar, enmtenda-se. Brilhante...
Sim, porque podem ter razão legal (da moral já lá vamos...) e esta ser-lhe até reconhecida mas não tendo essas “entidades de fachada” património onde ir reclamar direitos o melhor resultado nunca passará da vitória moral.
(ora aí está algo que afinal permanece a favor dos trabalhadores, a moral! Como sou tendencioso, credo!...)
Essas empresas são uma nova espécie de bastardos ilegítimos (bastava um adjectivo mas sabe bem insuflar...) directamente ao serviço das pequenas, médias e grandes empresas com cara legal e património (porque lhes permitem esvaziar-se do respectivo quadro de pessoal para leas, daí o termo rtransmissão...), mas que não são legalmente as reconhendo como ligadas a si.
Uma maravilha da legislação portuguesa que desde Dezembro último permite às empresas com quadro efectivo lançar para o mercado esses filhotes anónimos e não perfilhados oficialmente, que são meros refúgios temporários de acolhimento de unidades de negócio ou simplesmente parcelas delas – o que na prática significa que se pode considerar como parcela da unidade aquele que antigamente se designava por trabalhador... – da empresa mãe (nunca como aqui a palavra P... se justificava mas, enfim, sejamos elegantes até ao fim), alegando que não têm vocação para esse tipo de actividade.
Porque qualquer vínculo ou direito de retorno ao posto original (que só pode ser accionado se houver clara irregularidade por parte da nova entidade patronal) desaparece definitivamente um ano após a transmissão.
Se a dita empresa encerrar (e como elas proliferam em função dos contratos que a justificam esse é o fim mais provável) o trabalhador – que pode ser até gestor, a coisa já vai nesse nível, se não vai – fica com os seus direitos e anos de casa dados ao empregador original, que transitam com ele – essa foi a justificação moral alegada para esta benfeitoria aos direitos dos trabalhadores...-, irremediável e imoralmente perdidos, porque não havendo património não há onde ir ressarcir-se deles.
Mas e honra seja feita ao legislador de tal preciosidade, moralmente ninguém lhe tira nada, muito menos a vitória moral!...

E este direito está agora consagrado e devidamente legislado, sem quaisquer enquadramentos definidores do que se entende por uma unidade de negócio fora da vocação da entidade original, deixando todos os por conta de outrem sem qualquer critério de protecção.
Ou seja, por exemplo um construtor civil pode considerar-se sem vocação para ter unidades de negócio de pedreiros, carpinteiros, serralheiros, vidraceiros, canalizadores, afagadores, trolhas, etc., etc.
Pode lá ficar só ele (...a secretária se for jeitosa e mostrar disponibilidade é provável que se aguente... até aparecer outra mais disponível e...apetecível, claro).
E curiosamente, ou talvez não, esta é talvez a maior prova da incompetência e ignorância dos meus (teus, nossos) ricos senhores: é que existe isto tudo, mais o resto que já se sabia sobre poderem despachar a gente por inadapatação tecnológica e a maioria deles nem sabe!
Por isso querem mais e mais liberalização nos despedimentos.

É por isso que hoje vou mesmo ser malcriado:
Vão-se F..., meus ricos senhores!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um belo lugar II (no guardanapo...)

Café Royale...
...de um guardanapo recuperado


Vou-me agora...

Poderia apagar a mágoa
e deixar-te toda esta memória
mas seria assim como retirar a água
de um leito em foi dela o sulco e a história...

Vou-me agora...

Queria levar comigo
as migalhas do nosso ardor
e tomar para bálsamo de tanta dor
cada dos alentos que partilhei contigo...

Vou-me agora...

Não te queria abandonar
nem lançar a tamanho sofrer
e o que hoje fui incapaz de perdoar
será ferida que não mais cessará de doer...

Vou-me embora...

Porque se te tornar a ver
cederia às ternuras desses olhos
que sei agora serem meros escolhos
em que os meus se voltariam a envolver...


Filipe N

O maldito chip


Num gesto veiculado por uma revolta afinal similar à retida neste conto, e também marcado pela imposição de um poder que se nos sobrepõe e prova que afinal nada nos é verdadeiramente oferecido - porque surge sempre o dia da cobrança ou da retirada de acesso ao que nos atrevemos a pensar ser nosso - voltei aqui, principalmente para protestar.
Porque sinto já saudades deste tempo que se fina e de todos os que o partilharam por estes espaços moribundos, neste prazer só colhido da vontade de interagir a partir do que cada um sentiu e decidiu neles vitrinizar.

O (maldito) chip

No regresso à civilização daquele bimotor que agora vejo desaparecer no horizonte desta pequena ilha, onde espero ficar para sempre, quero acreditar que vai o encerramento definitivo de um pesadelo que duvidei ter algum outro fim que não o meu.
Olho em volta e acredito que reencontrei neste preciso momento a tranquilidade perdida à tanto, sentindo que será aqui que decorrerão todos os dias que me afastam desse fim que julguei tão perto e precoce nos últimos tempos.
Escolhi-a como último abrigo porque percebi que nenhum dos meus inimigos imaginará que escolhi um cenário deste tipo tão isolado e afastado de tudo o que é civilização e modernidade para exílio voluntário, por ser o oposto daquilo que sempre me caracterizou, atraiu, rodeou e procurei na vida.

Tudo começou há quase dez anos, em Lisboa e numa daquelas farras com que eu e os meus colegas comemorávamos o aprontar e fechar de um processo a ser levado a um qualquer congresso científico, na nossa incessante procura de visibilidade, notoriedade e reconhecimento.
Foi já com uns copos a mais que surgiu a ideia peregrina e alucinada, numa daquelas eufóricas fantasias em que nos embrenhávamos nesses momentos de descompressão.
E se não mais passou pela memória de nenhum deles nas semanas imediatas, nunca mais me abandonou o espírito, tornando-se mesmo uma obsessão permanente.
Assim que saíram, já de madrugada, fui de imediato para a net desarrumando também progressivamente a estante durante o fim-de-semana que se seguiu, à procura de uma pista por onde começar a investigar.
Nas semanas seguintes liguei e esgotei a paciência de inúmeros conhecidos de outras áreas científicas, percorri bibliotecas, embrenhei-me em ensaios e tudo o que havia que de alguma forma me pudesse ajudar naquela busca de um ponto de partida prático e material, no fundo tentando descobrir qual a abordagem e a área por onde devia entrar e começar a desenvolver aquela ideia louca.
E foi só quando me convenci que a achara que pus ao corrente os meus colegas, numa exposição que os foi aliciando crescentemente, até estarem eles mais excitados e empolgados que eu mesmo.
E durante seis anos mergulhámos todos freneticamente numa investigação fora de horas, que parecia só fruto de uma demência, recheada de fracassos e frustrações, até um dia a solução nos surgir súbita e inexplicavelmente num pequeno detalhe repescado de uma nova conversa de descompressão e desalento, pois foi precisamente quando ponderávamos já ser inevitável desistir e abandonar aquela utopia que ela nos abriu uma nova nesga de esperança e ânimo.

Meses depois tínhamos finalmente o protótipo do chip construído e pronto a ser testado, para depois o sujeitarmos a apreciação superior, de forma a obtermos um financiamento mínimo para o resto da investigação.
Porque sabíamos desde o início que nunca poderíamos expor e tentar ver aprovada como motivo de investigação uma ideia tão absurda, sem de alguma forma a complementarmos com uma qualquer evidência palpável que comprovasse pelo menos a plausibilidade da sua concretização, pois sem isso seriamos decerto tomados apenas por loucos e provavelmente encaminhados não para um fundo de investigação mas para o subsídio de desemprego.

E entrámos numa nova era de emoções contrastantes, desde a aprovação cheia de reservas, recomendações éticas e dúvidas até às primeiras cobaias a quem tivemos de remover precipitadamente o chip, dado o estado de confusão e desorientação em que entravam.
E foram precisos mais dois anos para conseguirmos finalmente desenvolver e integrar no sistema os filtros necessários para que só a informação que lhes era directa e exclusivamente dirigida fosse recepcionada e processada, sem uma sobreposição caótica e demolidora nem uma acumulação de sombras, ruídos e detritos das proximidades cibernéticas.

E finalmente um dia a cobaia não esgazeou, não enlouqueceu, não desmaiou, não entaramelou a língua ou proferiu sons incompreensíveis nem permaneceu como se nada lhe tivesse sido adicionado e implantado!
Finalmente tínhamos conseguido ultrapassar a necessidade moderna da informática física, tornado o ser humano receptor e emissor dela sem recurso ao manancial de adereços que até aí exigia!
Tínhamos num golpe de génio mandado o hardware ás alvíssaras, simplesmente implantando um chip que recebia, descodificava e transmitia direccionada e correctamente informação ao cérebro humano, podendo também emitir e formatar respostas, sem uso de qualquer equipamento, esforço físico ou derivado, salvo a implantação de um chip aparentemente idêntico a um pace maker dos doentes cardíacos.
Claro que ainda não sabíamos tudo, que muitos humanos não tinham a parte do cérebro que permitia esta forma de ligação, recepção e resposta ainda suficientemente activo e desenvolvido para permitir a generalização desta forma de troca de informação selectiva, liberta da escravidão dos acessórios informáticos que de indispensáveis passavam a obsoletas carcaças sem qualquer utilidade prática e irremediavelmente destinadas aos contentores de não recicláveis.
Uns ainda hoje não podem ser sujeitos com sucesso ao implante do chip mas fomos trabalhando e descobrindo progressivamente, com a ajuda de outras áreas e tecnologias, formas de activar e potenciar essa área específica da mente humana, tornando o sistema acessível a aproximadamente três quartos da população, que se podia concretizar através da produção e distribuição de uns simples comprimidos.
Lembro-me de uma risota geral sobre isso, quando trabalhávamos na forma de se processarem automaticamente as actualizações do software e um dos meus colegas afirmou que a maioria os compraria numa atitude muito discreta e envergonhada, como se estivesse a adquirir inteligência, ou comprimidos para estimulação sexual.
Curiosamente e à semelhança do que acontecera com a introdução de outras inovações generalizou-se rapidamente a ideia que o consumo desses medicamentos reduzia e inibia a potência sexual.
O injustificado contraste de efeitos assim popularizado entre estes medicamentos e o Viagra e similares tornou-se obviamente motivo de troças, anedotas e considerações negativas, consoante o meio em que grassavam tivesse um cariz mais ou menos intelectual, popular e até libertino.
Houve mesmo um anúncio polémico na tv que utilizou de forma bem humorada e um pouco machista esse preconceito popular mas que acabou por ser rapidamente retirado, dado o coro de protestos que certas associações gays e puritanas fizeram.

Esta foi a fase divertida, apaixonante e emocionante que nos devia compensar do empenho e abnegação dispendidos até á obtenção e aperfeiçoamento da inovação, uma fase infelizmente curta e em que nunca pensámos verdadeiramente no que iría provocar…
Quando apresentámos a nossa descoberta os média exultaram com ela e não pararam de a explorar, considerando-a alguns mais exagerados a descoberta do terceiro milénio, e em poucos dias tornámo-nos famosos, até motivo de debates em horário nobre, tudo indicando que rapidamente atingiríamos também mordomias, níveis de riqueza e popularidade que nunca nos tinham passado pela ideia.

Mas a reacção foi rápida e drástica.

Após uma nova apresentação da descoberta numa universidade francesa fomos atacados por uma carrinha que nos esperava no estacionamento à saída do auditório.
Dos cinco que constituíamos a equipa final - inicialmente fomos seis mas um desistiu ainda antes dos primeiros resultados animadores – resistimos apenas três aos ferimentos das rajadas com que nos balearam.
E a partir daí todas aquelas promessas de popularidade e sucesso a que nos começávamos a habituar se diluíram num ápice.
Passámos a ser vigiados, escoltados e mantidos em lugares secretos e fechados, vivendo não uma vida de privilégios e luxúrias mas inversamente como reclusos impedidos até de trabalhar ou estar com a família e os amigos.
Apesar disso e do escândalo que representava para o império informático e toda a indústria que vivia à sua sombra aquela caçada descarada e criminosa, ao fim de dois anos de atentados sucessivos restava apenas eu, e uma ideia revolucionária que também não chegara ainda a ser verdadeiramente implementada a nível mundial, porque os poderes económicos não pareciam particularmente empenhados nela.

O chip era afinal muito simples de produzir em massa, podendo por isso ser comercializado a um preço quase simbólico e a sua implantação no corpo humano teria também custo e exigências cirúrgicas idênticas às da implantação de um pace maker.
Mas a verdade é que os poucos que surgiram no mercado se vendiam a um preço exorbitante e só acessível à classe economicamente privilegiada.
Algumas faculdades de medicina chegaram a criar duas novas especialidades exclusivamente relacionadas com a inovação, uma para o diagnóstico das condições do paciente, sua preparação, acompanhamento e manutenção periódica do chip, e outra especificamente para os actos cirúrgicos da sua implantação e eventual remoção.
A indústria farmacêutica reagiu e as farmácias reivindicaram que eram as únicas entidades vocacionadas e tecnicamente apetrechadas para a sua aplicação, invocando que detinham competência polivalente para ela, uma vez que simultaneamente apareceram inúmeros complementos e potenciadores diferenciados e necessários á perfeita adaptação a cada utente.
Enquanto o nosso número ia decrescendo até só restar eu, sempre em movimento por lugares recônditos e remotos, a civilização desdobrava-se em ofertas, polémicas e guerras pelo monopólio do novo negócio.
Surgiram chips com capacidade de armazenamento para toda a informação necessária a uma viagem aos limites da galáxia, outros que se podiam aplicar e remover sem necessidade de intervenção cirúrgica e os mais recentes permitiam já o envio dos sons e cheiros ambientes e até do campo visual do emissor.

Vivi assim mais um ano, em reclusão e descrição total, sempre a mudar de lugar, gastando os adiantamentos pagos pelos direitos da descoberta num sem número de despesas estúpidas e frustrantes, alojamentos isolados, viagens escoltadas e muita segurança, completamente afastado de tudo o que mais gostava, pois fora sempre um ser eminentemente social e mundano, apesar da imagem que se divulga dos cientistas.

Já saturado e conformado a prescindir de tudo o que era previsto caber-me e aos meus parceiros entretanto assassinados pela descoberta de um sistema que aliviava a raça humana da dependência dos corpos físicos informáticos que a tinham escravizado nas últimas décadas, decidi preparar a minha própria fuga do isolamento em que vivia forçado iludindo todos, incluindo o cordão de segurança e vigilância que me era imposto para sobreviver.
Com a ajuda daquela que desembarcou comigo e está agora ao meu lado, pois percebi que só me seria possível concretizar se contasse apenas com uma única conivência e se ela se dispusesse a também desaparecer definitivamente de circulação.
Porque sei agora do que é capaz o poder económico para fazer abortar qualquer ameaça que se lhe atravesse à frente.
E ela foi alguém que nos últimos tempos me acompanhou e por quem me apaixonei, porque a paixão é um factor imponderável da vida, mesmo quando esta decorre nas mais insólitas e precárias circunstâncias, que nem os cientistas conseguem controlar, programar, ou até abster-se.
A ela devo também o fim do meu estado de conformismo e letargia, porque foi a paixão que me despertou que me fez reagir e rejeitar aquele estado de não vida, devolvendo-me a capacidade de reagir, sonhar e a vontade de viver e de me rebelar, mesmo que para isso tivéssemos que arriscar de novo a vida num fuga desesperada.
Que concretizámos de forma tão criativa como a minha grande obra, envolvendo condutas, contentores e carros de lixo, cordões de lençóis e a confecção secreta de cabeleiras desfiadas de tapetes de nylon ou a coloração delas embebendo-as em soluções à base de graxa, canela, vinho e fixadas com vinagre.

E ficaremos os dois por aqui até que a morte nos leve, nesta ilha insignificante e minúscula, desinteressante e pobre, praticamente desconhecida e de população quase pré-histórica.
Porque não consegui inventar nem imaginar outra forma de me libertar do pesadelo em que a minha vida se transformou, depois de ter descoberto algo que devia estar a permitir à humanidade recuperar muito do que se foi perdendo com a modernidade tecnológica sem curiosamente ter de prescindir de nada.

Nem mesmo aqui, neste lugar nenhum, consigo deixar de ter um pensamento perverso:
É que seria uma comunicação assim que os cérebros da Humanidade inteira receberiam agora, se em todos nós estivesse já implantado o (maldito) chip.

Filipe Nasi
(no final de uma jornada em que fui também Diogo e FE…J)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um belo lugar



Olá, Sofia

Ao final da tarde de ontem enviei-te um sms e liguei-te depois, mas não te consegui chegar.

Esta ”nova teoria conspirativa” não é um pedido de desculpas, que só faria sentido se houvesse anteriormente algo que o merecesse, e não dei por isso.

È uma simples história..

Curiosamente ontem foi um dia em que me senti particularmente airoso, apesar do pouco que dormi.
De vez em quando todos o sentimos, é relativo a nós e não tem a ver com padrões universais ou reconhecimento obtido dos outros.

Mesmo com o claro pressentimento de ser um não-dia para acontecer, por indisponibilidade ou por 270 km que se intrometeram, senti-me, além de bem comigo, curioso de ti.

À noite, apesar dos conselhos mesquinhos de um Fedro romano - homónimo de outro mais ficcionado e filosófico - que "conheces apenas quem te conhece" e que "é perigoso crer e não crer", dispus-me a procurar quixotescamente um vento favorável ao meu desejo, mesmo acompanhado pela intuição de não ser ainda o seu momento.
Mas lembrei-me também dessa criação platónica, capaz de falar à "alma" e dar-me a razão que refutava ao mestre do seu autor, e lá fui.
(hoje pareço o Paulinho das feiras, na versão dos congressos, “o que a Sra. disse que eu disse eu não disse e...")

Porque se a água corresse não faria falta o vento!..

Entrei e dei-te razão. É um belo lugar, para o sentar e acalmar. Amar não sei, não amo ainda.
E continuei a sentir-me "airoso", e imaginei que as "burguesas" em redor também o notaram e me perdoavam o olhar sonhador que, esgueirando-se através do vão arqueado e evitando o cabide onde pendurara o casaco e o cachecol, se perdia na transparência e na fantasia da tua entrada..
Lembrei-me ainda de uma frase mais recente, "ignorar os factos não os altera", ao contrário do sal, que os torna gostosos. Digo eu.

Mantive-me ali uma hora serena, talvez necessária, a vigésima segunda de um dia que não chegou a ser bom nem mau, apenas sem brilho, num reconhecimento, homenagem e penitência necessárias. Pelo dia em que lá me esperaste em vão.

Fugazmente distraído e divertido pelo deambular frenético da empregada pitosga, na sua concentração quase infantil e sobretudo na enfatuação com que insolitamente repetiu e tornou inesquecível o meu pedido.

Que afinal era só um moscatel e uma tosta de pão de centeio barrado com requeijão e doce de abóbora.
Um pequeno mimo para apaziguar outro, bem maior, que agora me calhou não ter.

No compasso desse tempo que te dediquei decidi não me oferecer todo, sou assim, permito-me deambular e saltitar entre estados de espírito românticos e marialvas, como se deste Romeu mergulhado em nostalgias emergisse subitamente um Casanova cáustico e manipulador de corações suspirantes, ainda que ausentes.

Pegando num guardanapo, talvez provocando até na alma desassossegada do vizinho Pessoa a expressão divertida que não lhe é facilmente atribuível, ou mesmo um risinho de escárnio, esse bem mais plausível, imaginei-me poeta e rabisquei nele umas quadras de inspiração falhada e métrica ortogonal, em abono daquele lugar recatado. Momento triste, ainda assim capaz de me ter dado uma certa compostura intrigante. Ou apenas patética. Adiante.


Pressentindo que o vento, o sal e a água, cuja ligação à "terra" é anunciada num vão vizinho, ainda têm encontro previsto, levantei-me e saí.
Não perdi nem ganhei, e não me viste, airoso e "assim".

Beijo.


PS - "Já não há pachorra", teria sido o meu último pensamento debaixo de telha, se não o tivesse substituído, já no vão da porta, pelo “ainda há..” com que me lancei na calçada rasante para logo em seguida esbarrar com o teu olhar divertido...