sexta-feira, 29 de abril de 2011

Nada mau



Tenho amigos que uniformizam e catalogam tudo em positivo ou negativo e nada de meios termos. Para eles até os dias pertencem de forma inequívoca a um destes dois qualificativos sumários.
Pela minha parte vou procurando fazer com eles telas mais ricas e coloridas, mesmo dos pequenos nadas que neles se intrometem, sem a mesma obsessão pela adjectivação absoluta...
 
Nada mau.

Depois da despedida rápida desci de elevador e só no passeio ainda distante me apercebi que deixara as chaves em cima da mesa de reuniões.
Voltei mas ninguém me abriu a porta, todos teriam já partido apressadamente para o fim de semana alongado pelos 4 dias que juntavam a Páscoa e o 25 de Abril.
Passava já das 20 horas, voltei a descer até á entrada do prédio mas inusitadamente o segurança desaparecera e assim subi de novo para insistir na porta do escritório, que continuou  contudo inerte e indiferente ao meu desespero.
Liguei depois e ainda do átrio do piso a avisar que já não iria nessa noite nem provavelmente nos dias seguintes para Évora, como tinha combinado.
E pensei desolado na forma de me distrair durante aqueles dias sem carro, pois era evidente que o escritório em que fora à reunião só retomaria a actividade na terça feira seguinte.
Deixava escapar uma imprecação precisamente quando as portas do elevador se voltaram a abrir. Dentro dele viajava uma mulher que me olhou e sorriu divertida com a minha expressão que, além de acabrunhada por ter sido apanhado no desabafo, devia corresponder com exactidão ao estado de espírito que o originara.
Há dias assim - comentou ela quando entrei e olhando para o painel percebi que também descia.
Nem imagina quanto isso é verdade, particularmente hoje - respondi-lhe notando-lhe logo o olhar directo e desempoeirado, pouco habitual numa mulher fechada com um estranho no elevador, e achando o facto invulgar e até atraente.
Também ela o era, mulher de expressão viva, curvas bem delineadas e torneadas, até ligeiramente exuberantes para a estilização standard em voga, e de aparência global construida entre o prático, o cuidado e o moderno.
E o seu sorriso abria-se numa face de traços interessantes e intensos, onde sobressaiam olhos grandes e de um castanho invulgar, claro mas uniforme e sem a habitual mescla esverdeada.
E para que não nos restassem dúvidas sobre o que aquele dia nos reservara o elevador estremeceu e parou subitamente, ainda com o mostrador a indicar o piso 1.
Não posso acreditar! - exclamámos quase em uníssono perfeito, após o que decidi meter o dedo no botão lateral para forçar a abertura das duas meias portas automáticas do elevador.
Quando o consegui revelou-se à nossa frente uma bela e íntegra parede, sem qualquer nesga ou troço de abertura para qualquer dos pisos que nos separavam de uma ansiada liberdade.
Toquei no botão do alarme mas pouco depois tornou-se óbvio que ele só nos traria salvação provável dentro de cinco dias, abrindo-nos uma perspectiva de fim de semana prolongado que acabava de bater em apoteose todos os anteriores prognósticos, já de si bastante negros.
A minha companheira de infortúnio parecia contudo muito menos afectada que eu com o que se perspectivava ali e depois de dar conta das minhas más expectativas perguntei-lhe porque parecia tão conformada e até tranquila.
- Porque hoje já não espero que rigorosamente nada me corra normalmente, respondeu-me ela sem hesitar, como se fosse fruto de um juízo já formado e consolidado anteriormente.
E continuou :
- Logo de manhã tive que ir três vezes reacender o esquentador em pleno banho e com o gel no corpo porque o dito Sr. Inteligente decidiu avariar-se. Acabei o banho com água fria e quando cheguei ao carro verifiquei que me tinham partido o vidro da janela e roubado o portátil, que tinha discretamente guardado na bagageira mas a que muito diligentemente acederam desmontando e danificando o banco traseiro .
Comecei pois este azarado dia cheia de stress mas lá consegui ao fim da manhã e depois de muitas voltas recuperar parte do trabalho que tinha necessariamente de concluir e entregar hoje até ao meio dia porque o tinha parcialmente copiado numa pen.
Como tinha marcada uma ida para Barcelona com saída do avião às 17 horas ainda me esforcei por o terminar a tempo, o que até nem era difícil, mas como tudo me continuou a correr mal tive que a desmarcar, tal como pedir um adiamento até ao final do dia para fazer a entrega combinada.
E apesar de mais uns tantos percalços inesperados e insólitos acabei por enviar tudo há pouco mais de uma hora.
Estava tão exausta que fiquei apaticamente sentada em frente ao monitor esta última hora, à espera do aviso de recepção e leitura e assim me mantive, progressivamente incrédula, até perceber finalmente que tanto esforço e até a desistência do fim de semana fora tinham sido gratuitos e inúteis, tornando-se óbvio que só será aberto na próxima terça feira.
E quando finalmente digeri isso e saí, meti-me no elevador mas ele parou três andares abaixo, onde dei consigo a deixar escapar um “que porra de vida esta!” que, embora desconhecendo-o, não me parece ser frase que diga com grande regularidade.
Por isso entendi quase sem o formalizar que acabara de encontrar alguém a passar por um dia equiparado ao meu em termos de qualidade...
...O que este enguiço do elevador comprovou definitivamente - rematou ela fazendo um careta risonha perante o meu ar contrafeito, que dava contudo já os primeiros passos na recuperação de um sentido de humor conformado com aquilo que lhe ia sendo imposto.
E para o provar, e também que não desisto ao primeiro contratempo, disse-lhe:
Não esteja já tão pessimista, ainda vamos remediar esta coisa, vai ver. Agora vou fazer uma série de telefonemas  a confirmar se ainda algum amigo meu anda pela cidade e pedir-lhe encarecidamente que nos venha resgatar.
Mas não andava já nenhum e por isso liguei para o número da esquadra do meu bairro, que não era aquele, mas de onde atenderam e prestavelmente me deram o do quartel dos bombeiros mais próximo.
Liguei e lá me prometeram socorrer-nos dentro de uma hora.
Que passámos a conversar, um pouco mais desanuviados, a certa altura já sentados no chão do elevador e partilhando peripécias da nossa vida onde a sorte e o azar pareciam ter sido factores determinantes.

Quando hora e meia depois alguém gritou “já cá estamos, vamos agora lá abaixo puxar o elevador para o Rés-do-Chão para os senhores poderem sair”, suspirámos e sorrimos aliviados, pois já nos ocorrera que também os bombeiros pudessem ter decido antecipar o seu fim-de-semana.
Como a conversa de cativeiro tinha entretanto percorrido situações enquadráveis nesse capítulo dos azares, até com alguns desvios que nos revelaram um pouco das ideias e caracteres respectivos, julgo que criáramos também uma mútua simpatia e inesperada cumplicidade naquele bizarro convívio.
Quando finalmente e após uns tantos solavancos a caixa do elevador parou no piso térreo saímos e demos de caras com as desculpas do segurança do edifício, por ter ido jantar precisamente quando ficáramos presos, o que fora a causa da demora na nossa salvação.
Facto este que nos causou novo calafrio, depois dos bombeiros regressarem da casa das máquinas e nos confidenciarem que estavam mesmo prestes a desistir de ali nos socorrer quando finalmente o segurança chegara da sua prolongada refeição.
Agradecemos, despedimo-nos e saímos para a rua.
Aí a Joana, assim se chamava, virou-se para mim e perguntou-me se queria que me levasse a casa ou a algum outro lugar, já que não tinha transporte e ela nada de urgente a requisitá-la.
Sentíamos ambos claramente um imenso alívio por aquela liberdade que a cerra altura parecera muito improvável, e embora tivesse hesitado acabei por convidá-la para jantarmos, acrescentando divertido que não me parecia que devesse argumentar com afazeres ou compromissos inadiáveis...
Riu-se com gosto, aceitou sem embaraços e lá fomos,  tentando agora adivinhar a quantos restaurantes iríamos bater antes de descobrir um que nos franqueasse a entrada.
Foi ao sexto, mas a comida era agradável e a conversa melhor.
E ficámos amigos ou decidimos tentar sê-lo a partir dali.
Nada mau para um dia assim.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O cartão de cliente

Pequeno conto sobre uma realidade que não constituirá ainda um mito urbano, como o das casas postas que continuarão a proliferar enquanto houver quem se gratifique com relacionamentos adquiridos pelo poder económico ou com a aceitação silenciosa da dependência a esse mesmo factor.
Mas que me parece cada vez mais plausível de emergir do anonimato imposto pelas grandes urbes, pelas absurdas mobilidades e horários laborais, que conjunta e simultaneamente facilitam uma certa propensão à bigamia mental e duplicidade social.

Picasso

O cartão de cliente

Tinham-se encontrado e conhecido na perfumaria, porque aparentemente ambas tinham detestado o presente.
E por um daqueles desígnios do destino que teimamos em definir como incompreensíveis coincidências - ou anónimas manifestações da vontade divina - a Inês estava com o ombro colado à Marta quando entregou o talão de oferta e a empregada decidiu soletrar interrogativamente o nome do cliente surgido no monitor.
Em uníssono ambas o confirmaram, olhando-se em seguida com surpresa e estranha curiosidade…

Subi no elevador com a porteira brasileira, falámos da chuva e do frio que pareciam ter abrandado mas que afinal regressavam em força neste princípio de Janeiro e abri a porta do apartamento já ansioso por me trocar e atirar para o sofá a ler qualquer coisa.
Tinha sido um daqueles dias esgotantes em que os assuntos acumulados na pausa entre Natal e Fim do Ano decidem atirar-se todos e de uma só vez para cima de mim.
Enquanto me dirigia ao quarto para substituir o habitual e formal traje de trabalho por umas calças largas e um casacão de lã velhos e confortáveis ouvi vozes na cozinha e perguntei-me quem teria a Marta trazido para casa.
Vivíamos assim informalmente há já dez anos e como não fizéramos questão de acrescentar filhos à nossa pacata existência nunca casáramos.
Pelo menos era essa a explicação oficial, embora soubesse que não contemplava a minha secreta conveniência em manter assim informal esse estado de vida comum.
Que tinha essencialmente a ver com nunca me ter sentido confortável com a necessidade de tomar opções perante as encruzilhadas da vida.
Embora a justificasse numa recusa muito minha em magoar fosse quem fosse sei que a verdadeira razão é outra e muito mais egocentrista, porque o que realmente me custa sempre é prescindir dos conteúdos que cada escolha implica.
E assim fui protelando sempre essas decisões difíceis, acabando por desistir mesmo de todas as que pude contornar, adaptando a vida à conciliação de realidades aparentemente incompatíveis para muitos outros
O que não evitou que as encarasse inicialmente com grande desgaste e ansiedade, até aos poucos encontrar um peculiar equilíbrio, necessário para lidar com elas, sistematizando e simplificando processos e procedimentos até as ajustar e integrar num modo de viver talvez reprovável à luz de certa decência moral instituída mas para mim depois perfeitamente rotineiro e tranquilo.
Se já antes me habituara a viver consciente de ter esta inapetência e recusa natas para as escolhas ela tornou-se determinante da minha existência a partir do momento em que me enamorei perdidamente pela Marta.
Porque sendo então casado com a Inês esse facto obrigava-me a uma atitude que nunca me senti capaz de assumir por envolver uma escolha que não soube ou quis resolver.
Naturalmente que a paixão anterior pela Inês se transformou num afecto diferente mas nunca consegui verdadeiramente encarar a hipotética separação dela, porque senti e sinto ainda por ela um afecto e uma cumplicidade amiga que sabia intuitivamente não poder aspirar atingir com a Marta.
Porque a Inês fora aquela paixão da liberdade e da descoberta com que ambos mergulhámos na idade adulta, ainda na fase da Faculdade, desses tempos loucos em que o dinheiro e o dormir não constavam ainda das indispensabilidades para se viver com qualidade e intensidade.
Faculdade que concluímos já casados porque ela engravidou no último ano do seu curso de medicina.
E foi já no final do internado geral dela, quando estava colocada em Mourão e levou o Miguel que ainda amamentava, que conheci e me apaixonei pela Marta.
O surgimento dessa paixão não estava previsto nem foi premeditado, menos ainda procurado, apenas sucedeu de forma espontânea e até contra a minha vontade, sem que conseguisse contudo resistir-lhe.
Quando após o internato a Inês regressou definitivamente a Lisboa para iniciar a especialidade em cardiologia eu vivia há já alguns meses com a Marta e foi então que verdadeiramente percebi que tamanha confusão existencial me exigia uma decisão.
Decisão que todavia nunca se transformou numa prioridade nem se impôs com a clareza indispensável para pelo menos definir qual delas preferia para parceira de vida.
Porque se a Inês tinha a seu favor a cumplicidade construída e partilha do Miguel por sua vez a Marta representava a minha mais perfeita compatibilização com uma mulher, algo que nunca me atrevera sequer a desejar, em termos intelectuais, físicos e também “químicos”, ou seja, uma coincidência e complementaridade de gostos e preferências, tanto sobre valores existenciais, políticos, literários, musicais como na excelência da mútua gratificação sexual.
Esses primeiros tempos de coabitação alternada com ambas na capital foram um autêntico pesadelo, obrigando-me a uma elasticidade e desgaste emocionais e mentais que serviram para inversa e contraditoriamente me treinar no exercício dessa vivência dualista, criando para a sua sobrevivência e sobreposição elaboradas premeditações e programações preventivas com que progressivamente ia adiando a necessidade de optar por uma delas.
Não sei mesmo concretizar muito bem em que altura se me adoçou a convicção que afinal essa escolha não era necessária.
Foi uma ideia que se instalou em mim de forma mais ou menos inconsciente mas nem por isso menos pró-activa e determinada, que me levou a adoptar práticas existenciais duplicadas e uma sua sistematização capazes que me permitirem retomar uma vivência sem sobressaltos e agitações.
A primeira foi decidir qual delas integrar na chamada família alargada, que incluía um pai, irmãos, tios e sobrinhos e qual a que desse convívio seria excluída. Calhou este último papel à Sara, para quem fui sempre filho único e já órfão, porque em última análise havia o Miguel a privilegiar o lado da Inês.
Uma outra alteração no sentido da minha estabilidade psicológica foi ter comunicado a ambas que como engenheiro ligado a uma empresa de construção de estradas e auto estradas tinha acumulado nela funções de chefia de projecto e de acompanhamento e fiscalização das obras espalhadas pelo país.
E que nesse desempenho sobreposto teria que alternar cada semana passada em Lisboa a acompanhar o desenvolvimento dos projectos com outra a fiscalizá-los no terreno.
Foi uma solução providencial e prática que, embora não me salvaguardasse de um eventual encontro deu uma enorme folga à minha até aí agitada agenda de presenças alternadas pelas duas casas, distribuídas a partir de então de forma sistematizada, justificada e pacífica.
Além da probabilidade de ocorrência de um encontro desse tipo se me ter afigurado sempre quase nula já que a Inês era médica em Santa Maria e morava em Telheiras, ali bem perto do hospital, processando-se toda a sua vida quotidiana de forma muito cómoda e centrada em redor do Campo Grande, até por o Miguel frequentar lá o Colégio Moderno.
Situação quase oposta à da Marta, com quem partilhava um T3 em Nova Oeiras e que mudava frequentemente de destino laboral, já que o seu CAP a transformara numa freelancer de sucesso no emergente sector da formação profissional.
Este quadro levantou-me alguns outros desafios, sobretudo de logística, porque saia habitualmente de uma das casas com um trolley anunciando a ela só regressar uma semana depois, que era o período previsto para cada uma das minhas viagens de fiscalização às estradas espalhadas pelo país.
Ora como na prática não saia da cidade tornava-se-me complicado justificar no regresso mudanças radicais na roupa levada, para mais sendo esses destinos na província.
Ao princípio ainda argumentei que nessas semanas me era fácil ocupar as noites solitárias cirandando pelos centros comerciais regionais que começavam a proliferar mas era uma justificação forçada e arriscada porque ambas me conheciam a intolerância quase visceral em permanecer demoradamente nesses locais de consumismo.
E resolvi-o finalmente passando a ter tudo em duplicado. Nunca mais comprei uma única peça de vestuário ou calçado isolada, depositando simétrica e sistematicamente duplicados de tudo o que adquiria nas duas residências.
Assim a minha vida passou a decorrer sem sobressaltos também nesse campo e mesmo o rigor com que inicialmente tentava refazer uma semana depois o conteúdo da malinha com que partira de uma delas deixou de ser relevante pois havendo o mútuo conhecimento do meu vestuário e calçado nenhuma delas estranhava que as peças levadas não correspondessem rigorosamente ás trazidas, até porque me tornei adepto conservador de tipos, marcas e modelos muito específicos, quer para roupas e sapatos de trabalho, quer para ténis ou trajes informais e desportivos de fim de semana, cuja compra aliás repetia de tempos a tempos.
Aproveitei ainda o facto de ambas serem Capricórnio, com aniversários separados por uma precisa semana de diferença, para uniformizar também o que adquiria para elas.
Passei por isso a oferecer-lhes presentes rigorosamente idênticos, beneficiando até dessa coincidente proximidade dos aniversários. Num ano foram relógios, no seguinte brincos e assim por diante.
Ainda não decorreram quinze dias desde que comprei o Allure agora lançado para os seus aniversários quase consecutivos.
Foi uma ideia que me pareceu prática, segura e inteligente, pois assim não haverá fragância a soltar-se de mim que se lhes afigure suspeita e desconhecida, contando naturalmente com a personalidade da minha própria pele para justificar qualquer eventual estranheza no novo Allure…
Lembrei-me porque hoje de manhã a Marta me pediu o cartão de cliente da perfumaria, o que provavelmente significa que no meu já próximo dia de anos também irei ter um frasquinho de cheiros…
Antes de sair do quarto para ir saciar a minha curiosidade sobre a voz inesperada que continuava a ouvir olhei-me ao espelho e reflecti que até aquelas calças e casaco que acabara de vestir, tornados confortáveis pelo muito uso doméstico, tal como o duplicado exacto da outra casa, tinham envelhecido paralelamente ao longo de muitas semanas alternadas.

Entrei na sala e sofri um abalo. Sentadas num súbito silêncio e obviamente à minha espera estavam a Marta e a Inês.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A borbulha orfã

A última ceia, esboço a carvão de Leonardo Da Vinci

A borbulha orfã


O tema é decerto recorrente e repetitivo, fastidioso e enjoativo mesmo, mas não há forma de o contornarmos, de tão influente e preponderante ele se ter tornado de repente na vidinha de todos nós e destes dias maus que vivemos, com inevitável agravamento nos que se avizinham.
A política e a mediocridade dos protagonistas que nela nos couberam – ou que nós deixámos eternizarem-se porque é uma matéria definitivamente pouco motivadora, pesada e chata - vinha passando já há muito ao largo da maioria de nós, porque se assemelha a uma daquelas borbulhas adolescentes que teimavam em surgir sempre que queríamos estar chamativos e charmosos, tão inoportunas como garantidas, e não havia volta a dar-lhes!
Mas esta crise é algo que teima em fazer-me querer aprofundar as causas desta outra acne....
Começou realmente quando e quem são os verdadeiros responsáveis por ela?
É obra da inapetência e incompetência gritante dos políticos em exercício ou vinha já de trás?
Quanto a mim ela surge como fruto global da acumulação prolongada por um tempo considerável de exercícios alternados desse mesmo poder e só agora deu à costa porque se tornou impossível aos actuais mantê-la afundada e grogue, não havendo já ginástica ou manobras dissuasoras e diversivas que chegassem para a camuflar e ocultar das atenções exteriores.

Porque a triste verdade é que a nossa crise não foi descoberta cá, pelos nosso especialistas da finança, a queda dos últimos cabelos da nossa careca económica só foi detectada a partir de fora, pelas odiosas agências de rating, essas malvadas que não gostam do Cristiano Ronaldo e do Mourinho, nem da Marisa e dos Chutos e pontapés.
Que em meu entender é precisa e verdadeiramente o mais grave e alarmante nela!

Que o governo mente por sistema já todos sabemos e contamos até, porque nem outra coisa há a esperar de quem mentiu invariavelmente para lá chegar.
Para confirmá-lo basta comparar qualquer programa eleitoral com os resultados da respectiva governação.
Além de tudo o que se deva imputar aos governos desta crise que certamente se foi acumulando e espraiando por um período de tempo considerável e apertando em silêncios e usufruto das mordómias cómodas aos ditos políticos parlamentares ressalta a ignorância, a incompetência ou pior que tudo isto, a conivência colectiva desse leque de oposições, olé-olé-esquerda-direita-olé, esses que tiveram e tem como justificação para serem principescamente pagos pelos nossos impostos o dever de vigiarem, verificarem e denunciarem o exercício do poder, tal como obviamente os seus abusos, descontrolos e desvios.
 Porque não têm outra escapatória admissível, é essa a única justificação para os seus chorudos abonos de parlamentares! Ou a AR é assim como ir a banhos no verão?
Mas teimo na minha, há quanto tempo é que isto se passava e sabia sem que ninguém tenha levantado um cabelo ou mexido um dedo para o revelar?
Ou não há outra vez culpados e o bode expiatório vai ser o objecto único das próximas eleições? Quem as ganhar vem dizer que foi o outro...
Não, não estou a desconversar por ser fã do Eng. Sócrates nem especificamente contra o Dr. Coelho, tenho mesmo muito pouca consideração pelo primeiro e nenhumas expectativas no segundo, o que quero saber é quando é que começou esta indecorosa conivência política geral para fazer um alvo de setas com os cabeças de lista de todos os partidos que foram a votos, sendo governo ou oposição ao longo desse tempo de silêncios criminosos, e também os presidentes, ministros, etc..
Porque assim já posso desligar o LCD sempre que um deles por lá aparecer, agora nas suas poses de grandes entendidos em formulas de resolver esta crise, para chamar os meninos ao exercício de tiro ao alvo...
É que não tenho duvidas ( neste assunto, Sr. Presidente, por acaso no resto tenho muitas e até as certezas andam agora sem jeito, assim meio cambadas, entende?) que tudo isto vai sobrar para eles em triplicado, pelo menos. (É que são meus, os meninos e não as culpas, entende?...)

Também já era certo que dos actos eleitorais portugueses só resultam vencedores - e quero lá saber se lá fora é ou não igual, porque pelos vistos esta crise local surgiu em contra ciclo com o tal mundo global - e não há força política do burgo que o desminta, nem que seja só por uma vez e para ser simplesmente original...

Todos os processos mediáticos surgidos por cá foram resolvidos sempre com mesma estratégia: tornados tão morosos e prolongados, complexos e confusos, e alargado de tal maneira o cabaz de culpados e envolvidos que por fim o resultado de tudo isso foi sempre o desinteresse e alheamento crescente da opinião pública que permitiu a todos eles saírem a proclamar total e comprovada inocência.
Enfim, que por cá a culpa foi, é e será sempre órfã consta de outro saber popular que se cristalizou, no fim até fica sempre a ideia, aligeirada pela nossa preguiça mental, que tudo não passou afinal de uma invenção ignóbil de uns tantos tarados – juízes e inspectores da judite, claro, por acaso entretanto silenciados e retirados dos processos - e que não houve afinal crime nenhum!
Tudo gente séria e honestíssima...
O rabinho dos meninos que lhes doa, ora pois, se eram drogados e faziam aquilo no Eduardo VII para que raio haveríamos de envolver e manchar com essas nódoas sociais a reputação de pessoas tão boas e de bem? E viva a sodomia forçada (que não tenho nada contra o gosto privado de cada um...)
Ou para que serviria esmiuçar e aviltar o curriculum de dirigentes de enorme sucesso desportivo, mesmo a nível internacional, com o processo comezinho sobre um tal apito dourado se afinal o futebol não passa de uns outros tantos marados de volta de uma bola com um outro a apitá-los?
Sejam lá quais forem as maroscas que façam para ganhar não têm importância nenhuma, o melhor mesmo é desagravar, branquear e arquivar de vez.
E sobre os inúmeros escândalos de corrupção deixemo-los sossegados e a marinar até morrerem por si mesmos, todos sabemos que o mundo do poder e do capital é afinal todo igual, mesquinho e vil, por isso para quê perder tempo e energias curiosas à procura de culpados. Sejamos claros, sendo todos ninguém é, ponto e assunto arrumado.
O que sobressaiu sempre de todos eles foi a ideia que quantos mais envolvidos e arguidos melhor porque no fim o resultado foi, é e será sempre o mesmo: sendo todos só “um bocadinho distraídos” - que nem culpa chega a ser porque não passaram de descuidos sem intenção, claro - no fim são já tantos os metidos ao barulho que fica tudo emperrado... até se concluir que não houve, há ou haverá nunca culpa de coisa nenhuma, mas afinal e só muita má interpretação, má vontade, difamação, infâmia e até inveja do protagonismo!
Crimes? Mas quais crimes?

E viva Portugal-olé!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Pois é



Pois é

Portugal está definitivamente numa crise pior que a do costume, o ouro e as pratas já se foram há muito, vêem aí os maus do FMI e valha-nos quem for capaz...
E quem é capaz de dizer que nós, que podemos ter e temos jeito para muita outra coisa, não temos nenhum para nos governar e saber gerir?
A culpa desta crise será órfã ou só do engenheiro Sócrates e do menino Coelho que reuniu com ele em passos bem escondidos? Parece-me que vem muito de trás, para ser franco.
Por exemplo, quando a União Europeia fazia questão na nossa adesão à moeda única, porque éramos só nós e a vizinha aqui do lado os inscritos de então, não deveríamos ter sido mais responsáveis e exigentes, fazendo valer a necessidade de uma melhor estruturação da nossa economia antes de lhes fazermos a vontade?
E não devíamos nessa altura ter feito um plano de vida, definindo uma estratégia e as actividades que nos iriam suportar economicamente.
Refiro-me à escolha de uma vocação, a pôr o nosso futuro em marcha, com vários ramos de actividade (porque a Irlanda arranjou só um e deu no que se vê...), a criar as respectivas estruturas e a dirigir os fundos para isso e não simplesmente a recebê-los e dá-los a fundo perdido sem averiguar muito bem para quê, salvo nas obras públicas?
Acho que sim, até pelo que disse, porque nessa altura eram poucos na fila e eles também queriam que entrássemos....
Mas não, toca é de entrar a correr e de receber esses dinheiritos por conta das actividades que nos mandaram suspender, achando e apregoando que éramos uns sortudos!
Porque senão vejamos: não tínhamos indústria de jeito, só uns sapatitos de qualidade mas em pouca quantidade, uns têxteis que nem isso, uma agricultura quase pré-histórica e muito além da nossa própria subsistência, umas pescas que apesar de mal armadas eram heroicamente razoáveis e muita cortiça para rolhas, claro.
E para que nos deram eles então os tais fundos?
Para melhorarmos e modernizarmos essa nossa produtividade fraquinha mas real?
Não senhor, precisa e especificamente para reduzirmos ainda mais essas mesmas actividades quase artesanais mas ainda assim com alguma expressão e ocupação populacional!
Tirando o Magalhães, obviamente o único verdadeiro feito que lhes será atribuível. Porque também deve dar para jogos, digo eu...
Com ou sem redução de cotas foi simplesmente essa a razão dos subsídios para as famigeradas acções de formação profissional que eram assinadas de passagem pelos sobrinhos e filhos de amigos ou para aderir aos franchisings da moda, para as vivendas, piscinas e jipes, porque de facto o que se queria de nós era ainda menos têxteis, pescas e agricultura.
E nós ficámos a fazer o quê?
Serviços, pois nem mais!
E porque não há pai que não tente enfiar o filho numa actividade qualquer restou às gerações que se seguiram acotovelarem-se nas universidades e depois em serviços, se fosse na Função Pública melhor, era mais seguro, mas lá no escritório ou no do padrinho sempre se foi arranjando uma cadeirinha para o menino.
Só que agora os meninos estão uns homens feitos, os pais reformados ou à beira disso e o país tornou-se inviável.
Das reformas nem vale a pena falar.
E ai de quem diga que a culpa é desses senhores, dos gestores e governantes que sucessiva e continuadamente não criaram riqueza nem olharam para o futuro que nos iam fechando!
Porque ou são Presidentes da República ou têm fundações beneméritas, ou são figurões importantes no estrangeiro ou enriqueceram simplesmente e vivem no bem bom, ou então são directores e controladores dos meios de comunicação.
Por isso, entre outras coisas e se tens verdadeiro gosto pelo teu emprego e salário o melhor é dizeres que tudo isto resultou afinal da tramóia dessas tenebrosas e malvadas agências de rating!...
Umas malandras, essas sim!
Pois é.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Eu, caruncho

Do que aqui vou magicando e escrevinhando pode passar a ideia que me julgo santo ou pensar-se que isso quero transmitir, um pouco incompreendido é certo e quase sempre mal interpretado, até difamado (pelos maus caracteres, claro!...), mas sinto que não me fica bem, nem caibo ou gosto dessa imagem.
Porque não sou nada disso mas tão só um tipo meio solitário e um pouco megalómano – que é muito diferente da arrogância narcisista que alguns me atribuem enquanto a distância não se encurta – que se questiona sem grandes pudores ou mantas de hipocrisia e, vá-se lá saber porquê, não se importa também nada com essa exposição da sua relativa excentricidade e complexidade ética, mental e moral.
Ora para que não fiquem dúvidas inventei esta.

 
Chagall
 
Eu, caruncho

Há já uns anos que vou assiduamente tratar do meu ombro mau a um Spa perto de casa e foi numa dessas primeiras idas que encontrei um casal vizinho.
É um casal estrangeiro que dificilmente passa despercebido dada a sua gritante diferença de idades. Ele é escritor, poeta, encenador e professor universitário, relativamente afamado no seu país por alguns programas de televisão que protagonizou.
Já muito avançado na idade casou-se com aquela que é actualmente a sua companheira e vieram ambos viver para Portugal.
Mais precisamente para o meu lado.
São contudo um casal muito discreto e metido consigo mesmo, com um modo de viver em que nem os vizinhos dariam por eles se não fosse o contraste das respectivas idades
E vinha notando que o estado de saúde e vigor físico dele se vinha deteriorando, sendo muito provavelmente a principal razão da frequência com que o vejo apoiado nela em lentas, quase pesarosas e cada vez mais frequentes passeatas pelas redondezas.

Bom, quando lá os encontrei pela primeira vez saía da minha sessão de fisioterapia, calhando ele entrar para o mesmo gabinete, ajudado pela mulher.
Como nunca tivera oportunidade de falar com nenhum deles alonguei-me um pouco na tagarelice com a recepcionista e esperei que a mulher voltasse do gabinete para entabular conversa.
É de uma beleza serena que se torna mais notada e apelativa pelo evidente contraste com o ar desgastado, quase trôpego e envelhecido dele, podendo muito bem ser tomada por sua filha, senão mesmo neta.
Lá consegui finalmente cativar-lhe uns minutos de atenção nesse dia e percebendo que iria por ali ficar à espera do marido despedi-me e fui à minha vida.
Como é normal ali as horas ficarem cativas aquele encontro passou a repetir-se, coincidindo a minha saída com a entrada dele para a sua sessão.
E fui ficando por ali, alimentando-a em simpatia de boa vizinhança e desafiando-a até uma ou outra vez para um cafezinho nas redondezas.

Comprovando que não sou nenhum santo numa dessas saídas atrevi-me a abordar a diferença de idades e a lembrar-lhe que também ela necessitava de tratar bem de si mesma, do seu corpo e das suas necessidades.
E dei-lhe o meu exemplo, que me precavia contra o deteriorar das capacidades motoras, vigor e agilidade indo ali com assiduidade, embora acrescentasse gratuitamente que elas estavam ainda em estado perfeitamente vivo e activo.

Ora nós portugueses temos uma língua tão rica e comprida quanto o necessário para a fazer chegar ao porto pretendido, ao contrário da maioria das outras, e por isso ela terá entendido daquela minha inocente revelação uma qualquer e muito clara oferta para a ajudar nas suas carências.
O que passámos a fazer regularmente, naquela horita dedicada à manutenção de cada um. Porque temos também a fama - e o proveito - de acolhermos e tratarmos bem quem nos visita.
Depois, depois tornou-se um pouco maçudo, apressado e quase obrigatório, fastidioso mesmo, ou então foram os horários que acabaram por se desencontrar...

E pronto, acho que me recriei com esta fantasia para chegar ao que queria, ao caruncho da santidade
E será que devia ter posto alguma advertência lá em cima, tipo bolinha ou assim?...
(“Credo!” como diria a minha FE...)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um dom irrefutável

Chagall


Um dom irrefutável

Sou quarto e último filho de um casal culturalmente evoluído e economicamente desafogado e vivi a maior parte da minha infância numa África genuinamente incivilizada na condição de benjamim tardio, o que fez de mim uma criança isolada dos irmãos internados em colégios citadinos e afastados.

Mas tive também o privilégio de com alguma assiduidade passar períodos em urbes modernas, como eram Lourenço Marques, Durban ou Lisboa, com acesso às suas mordomias materiais e sociais, e até de ser ocasionalmente deixado aos cuidados dos avós numa Évora que me trouxe ainda o perfume de um ruralismo diferente.
Fui por isso enriquecido pelo contacto directo com muitas realidades contrastantes que de certa forma lançaram sobre mim a necessidade de precocemente me adaptar à constante mudança dos ambientes e também a tornar-me neles auto-suficiente e independente, até na forma como corporizava os meus devaneios juvenis.

E não sei se nascida do cruzamento de leituras do Super Homem com os luppings aréonáuticos proporcionados pelo recente brevet do meu irmão mais velho adquiri muito novo a convicção que conseguia levitar, observar do alto, voar mesmo e assim deslocar-me pelo mundo com essa prerrogativa das alturas, chegando mesmo a roçar e brincar com as nuvens ou a com tal dom poder curar saudades de entes queridos e outros lugares menos remotos que os ínfimos e isolados povoados brancos em que decorreu a primeira parte da minha juventude.
Não, não se trata como pode parecer à primeira impressão de uma mera e vulgar fantasia infantil, ao contrário guardo desse viajar tão improvável como irrefutável memórias autênticas e vivas.
Assim espreitei muitas vezes os meus irmãos nos seus longínquos colégios, a Mafalda que foi a minha primeira paixão e morava na povoação da carbonífera a uma trintena de quilómetros, até os avós da Évora distante ou a tia Jacinta de Lisboa, a minha preferida e de quem periodicamente sentia saudades por me mimar exacerbadamente, além de ostensivamente me considerar e tratar como o seu super dotado privativo.

E esta certeza de ter tido esse dom permanece e teima em não se desvanecer porque recordo com detalhe inusual muitos aspectos que o tornam indesmentível.
Porque adiei algumas partidas ou cheguei mesmo a desistir pouco depois delas quando se me deparavam péssimas condições atmosféricas e de voo, mas muito mais dramática e aflitiva era a turbulência surgir no regresso, porque se tratava obviamente de uma actividade secreta e completamente à revelia do conhecimento dos meus pais.
O que me obrigava a estar impreterivelmente a horas em casa, para os poder manter nessa ignorância essencial.

Ora aí está outra discrepância difícil de enquadrar e desmistificar como mera fantasia encontrada e explicada na agitação criativa dos sonos infantis: eram viagens definitivamente diurnas e é fácil de perceber que as mais longas me obrigavam a seguir a grande altitude, por vezes até em circunstâncias de rarefacção do ar respirável, porque necessitava de seguir uma linha de costa ou percursos mais ou menos reconhecíveis pelas características do relevo, já que como é óbvio não tinha radares nem outros instrumentos da navegação evoluída.
Eram curiosos esses longo cursos que exigiam grande altitude porque viajava então em permanente e curvilíneo sobe e desce, numa alternância contínua de arcos convexos e o côncavos, respirando no ponto mais baixo e fazendo em seguida uma curva tão alongada quanto me permitiam os pulmões.
E se não bastasse tudo o que já disse posso acrescentar que a única coisa em toda a vida que foi capaz de me provocar um indício de enjoo foram situações pontuais de cansaço ou pressa que me obrigaram a apressar e apertar esse ondular entre altitudes.
Aliás também só pode ter sido este repetido treino de contenção de ar que em adolescente me tornou famoso no meio, porque conseguia estar cerca de quatro minutos a boiar nas piscinas de barriga e cara para baixo, apercebendo-me muitas vezes do burburinho que isso ia progressivamente causando lá em cima e com o que pretendia obviamente chamar a atenção a alguma donzela mais distraída....
Chegando mesmo a provocar alguns mergulhos de pessoas vestidas normalmente, para me salvarem do afogamento e que surpreendentemente me viam depois emergir com um sorriso nos olhos simultâneo ao soltar da baforada de ar contido.

Podia estar aqui horas a dar prova da irrefutabilidade deste meu dom, mas o que não posso é demonstrá-lo.

Porque assim que passei a viver definitivamente numa cidade e nela descobri as amizades e o seu convívio desapareceu.

Com muita pena minha!