quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nem mais nem outros


O atelier do artista... de José Malhoa

Não cai bem reflectir publicamente sobre a íntimidade...

Nem privadas a criticar essa minha ousadia, embora ficasse sempre claro que as lucubrações aqui feitas são layers opinosos sobrepostos a bases fictícias e congeminadas entre fantasia e experiências de vida, misturadas de acordo com as minhas preferências e até (porque não?) carências exibicionistas e propangandistas pessoais - :))) -, conforme refere ainda o sub título deste blogue.

Porque gosto de imaginar situações, de as atravessar, trespassar e desenvolver, talvez inabilmente, através dos pequenos contos que construo e dos enquadramentos que defino para as suas personagens.
E para isso dá-me jeito também vestir o eu das figuras criadas, tendo-o já assumido no feminino e até no plural, tentando desvendá-las ou apenas espreitá-las, pelo verso e pelo reverso.
Que a considerem uma vocação desprezível para um espaço que mantenho público ou mesmo ocupação árida e até ofensiva dos tempinhos que me sobram entendo, mas deixem-me brincar com ela que há formas muito mais nocivas e mesquinhas de os desmerecer.
Houve em tempos quem me enviasse vírus e tornasse quase importante através de campanhas e alertas, facultando sobre mim pormenores que muito me surpreendiam e deixavam estupefacto quando mos contavam.
Por assim o manter aberto torno também óbvia a receptividade à opinião crítica alheia, que é coisa diferente e atraente.

Mas voltando à vaca fria – adoro esta tradução literal do inglês – abordar através de uma perspectiva intimista situações entre o real e o ficcionado e percorrê-las também pelas suas vertentes psicológicas parece-me um exercício que (me) alarga os horizontes da compreensão da complexidade humana e vivencial.
Porque julgar é tanto mais fácil quanto mais estreita e unilateral for a nossa percepção do mundo, das suas realidades e gentes, do existir e do pensar diferentes do nosso.
Porque se os há em tantas formas, algumas chocantes mesmo para os mais tolerantes, é porque se sustentam em imensas e complexas concepções relativas ao mundo peculiar de cada um.
E que terão a sua génese no que se designa por índole ou carácter pessoais, acrescentados das particularidades colhidas em crescimentos mais ou menos atípicos.
Tenha ou não o sujeito disso consciência a compreensão de cada atitude íntima e pessoal, social, política, etc. é fortemente influenciada pela interacção destas duas involuntariedades, a que devemos apor ainda a influência decisiva da consciência e da determinação pessoais de cada um para alterar - ou não - o rumo previsto pela dependência desses factores que nos formaram e foram impostos, e que constituem um desafio em que me dá gozo mergulhar introspectiva e conjugadamente.
Descodificar os cenários desenhados em intimidades particularizadas é pois para mim um prazer e fá-lo-ei cada vez com maior curiosidade e mesmo despudor, porque tenho recolhido desse aventurar por eles a convicção que mesmo centrando-o no imaginário – inevitavelmente influenciado pelo que me tocou e observei em redor – me enriquece e ajuda a relativizar o choque que é sempre viver entre diferentes.
Mesmo ciente de não ser verdadeiramente possível aceder com exactidão ao núcleo central da esfera íntima de cada uma dessas personagens continuará a ser esse um meu atrevimento, com crescente probabilidade de chocar o que lhe junte preconceitos e intentos alheios.
Porque os meus são só estes, nem mais nem outros.

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