quarta-feira, 4 de maio de 2011

Uma improvável coincidência


- para maiores de (mental)idade-


Era a nossa segunda noite e aos repetidos estados eufóricos seguiam-se amaldiçoados mas indispensáveis intervalos.
Porque não fomos feitos da mesma massa, digam o que disserem os filósofos e os cientistas.
E aquela mulher soltava-me ininterruptamente a tampa, não deixava esmorecer as labaredas que incendiara no meu desejo e por isso me incomodavam as pausas incontornáveis à minha natureza de homem.
Não era bela nem sequer se denunciara anteriormente o apelo que transmitira à minha libido assim que mergulhara no perfume do seu encanto.
Há quem lhe chame química, a mim parecia-me loucura pura e intraduzível por um qualquer conceito já acontecido.
E contudo fora muito sereno e mesmo indolente o seu despertar, talvez pela minha percepção não ter desconfiado do que se prometia.
Ela tinha uma particularidade física que obviamente teria sido sempre o chamariz de atenções anteriormente colhidas e que por tal considerei dever poupar e até evitar: umas mamas lindas e firmes, cheias e pontiagudas, até proporcionalmente exageradas face à elegância do corpo.
E por isso também a minha abordagem as contornara, sendo particularmente discreto, e também suave e meigo no seu breve acariciar.
Mas curiosamente essa predisposição e contenção em nada afectou o deslumbramento que despertou em mim aquele mergulho quase ébrio no seu corpo quente e na sua forma de dar e receber sensível e sensualmente intensa.
E assim percorrêramos já uma mão cheia de empolgamentos e êxtases, cada um deles multiplicados muito para além do imaginado.
E ela não tinha forma de os acrescentar ou simular, pois manifestavam-se de forma inequívoca.
Porque há mulheres que sofrem dessa (in)conveniência masculina.
Por isso naquela pausa de guerreiros nunca saciados me surpreendeu ouvi-la perguntar porque sendo tão minucioso e paciente – quase tortuoso – na estimulação de tantos dos seus lugares de prazer desleixara, de forma tão evidente, as mamas.
Disse-lhe o porquê, ela riu-se e abraçando-me retorquiu:
- Meu querido... é bem verdade parte do que pensaste, mas escapou-te a possibilidade de haver uma improvável coincidência: a de eu adorar o que elas provocam...


PS - Dedicado ao recordar de uma mensagem sambista que, tal como Chagall, coloriu um dia cinzento... mas nem tanto moralista. :)

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